O mundo que se revela no texto: por uma polÍtica de leitura no ensino de comunicaçÃo
Résumé
Ce travail cherche réfléchir sur des questions de lecture dans le quotidien universitaire par rapport à l´efficacité académique des élèves de journalisme et sa profession de l´avenir. Expose les résultats de la recherche sur les répresentations de la lecture dans l´enseignement de journalisme: un étude ethnometodologique entre Brèsil et Portugal, à partir desquels on pu conclure sur l´importance de se adopter les politiques de lecture dans le contexte de l´enseignement de communication comme façon de défaire les empêchements que sont encore visibles.
Em português
Resumo
Este trabalho procura refletir sobre questões de leitura no cotidiano universitário correlacionando-as ao desempenho acadêmico dos alunos de jornalismo e sua futura profissão. Relata os resultados da pesquisa As interfaces da leitura de notícia no ensino de jornalismo: um estudo etnometodológico entre Brasil e Portugal, a partir dos quais pôde-se concluir sobre a relevância de se adotar políticas de leitura no ensino de Comunicação como forma de desfazer entraves que ainda são visíveis.
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Lopes Gomes Adriano, « O mundo que se revela no texto: por uma polÍtica de leitura no ensino de comunicaçÃo« , Les Enjeux de l’Information et de la Communication, n°07/2, 2006, p. à , consulté le , [en ligne] URL : https://lesenjeux.univ-grenoble-alpes.fr/2006/supplement-a/20-o-mundo-que-se-revela-no-texto-por-uma-politica-de-leitura-no-ensino-de-comunicacao
Introdução
As políticas de leitura vêm sendo discutidas nos diversos segmentos da educação, destacando-se a sua relevância para a aquisição do conhecimento, da cultura, do saber e da conscientização política, face aos desafios do mundo. Saber ler tornou-se, pois, condição indispensável para o acesso a qualquer área do conhecimento e, mais ainda, à própria vida do ser humano, uma vez que a leitura apresenta função utilitária e transformadora da sociedade. Porém, pesquisas indicam que a falta de leitura não se concentra apenas no ensino fundamental, mas prossegue no ensino médio e, por efeito dessa constatação, alcança o ensino superior. Sendo assim, nem sempre é correto acreditar que o aluno chega à universidade adotando práticas sistemáticas de leitura. Este trabalho procura identificar as possíveis relações entre as experiências de leitura na formação do jornalista, além de reunir informações que respaldam nosso postulado sobre a necessidade de se adotar políticas de leitura no ensino da Comunicação. Como base empírica das análises e reflexões, ainda apresenta os resultados da pesquisa As interfaces da leitura de notícia no ensino de jornalismo: um estudo etnometodológico entre Brasil e Portugal, realizada entre 2004 e 2006.
Admitimos que há uma lacuna quanto ao diagnóstico do estado de leitura dos alunos de Comunicação Social – habilitação em jornalismo, futuros formadores de opinião, de quem se espera a competência para saber ler e escrever. Tais requisitos recaem sobre a formação de leitores críticos e experientes para traduzir, em textos, a realidade social em que vivem e atuam, cujo contexto nos autoriza a afirmar que a formação do jornalista tem estreita relação com a formação do leitor. No levantamento que fizemos, não conseguimos identificar estudos semelhantes no Brasil que pudessem relacioná-los ao estado da arte. Em Portugal, convém destacar a investigação de Pinto e Marinho (2005) sobre práticas e atitudes face aos media dos estudantes de jornalismo: um estudo de caso na Universidade do Minho.
O aluno de jornalismo que exerce domínio sobre seu objeto de conhecimento, através de práticas de leitura, é capaz de agregar os requisitos de que necessita para sua emancipação e autonomia no âmbito educacional e social. Emancipação, porque o aluno encontrará na leitura o suporte de informação e experiência, permitindo-lhe o estatuto da criticidade por estabelecer parâmetros de referência à diversidade de episódios que exigirão julgamento e tomada de decisão própria. Autonomia, porque a leitura apontará uma série de possibilidades que caracterizarão o leitor como aquele que sabe empreender a busca necessária ao conhecimento e à aprendizagem na hora e tempo em que precisa, de forma voluntária e consciente. A despeito disso, convém ainda assinalar as interfaces da leitura na produção da notícia, razão pela qual defendemos que o aluno de jornalismo deve recorrer aos textos de natureza diversa, notadamente de jornais, de onde se pode reunir informações estruturais e técnicas para elaborar as matérias.
Silva (1992, p.42) enfatiza que a leitura está intimamente relacionada com o sucesso acadêmico do ser que aprende, e, contrariamente, à evasão escolar. Mais adiante, o autor conclui que escrever e ler são atos complementares: um não pode existir sem o outro (idem, p.64). Sendo assim, para escrever bem, esse aluno terá na leitura o suporte do conhecimento a ser armazenado em sua memória de longo prazo (Smith, 1989; Lencastre, 2003), na organização do repertório lexical e semântico, à semelhança de fontes matriciais. Por tal motivo, defendemos que ler é estabelecer relações entre o texto e o conteúdo sistematicamente internalizado sob a forma de conhecimentos. Abordamos a questão do conhecimento como resultado de experiências que se sobrepõem àquilo que se é e já se sabe. Essa idéia reforça nossa concepção de que a prática da escrita também pode estar atrelada às experiências de leitura.
Quando evidenciamos aqui a questão de “saber ler” não se entenda a situação de decodificar palavras e frases, porém compreender os textos para além das linhas, identificando elementos informacionais que não são tangíveis na materialidade gráfica.
Experiência e leitura: saber narrar o acontecimento
A concepção de experiência é aqui adotada no sentido pragmático que pressupõe a aquisição de informações por meio da vivência no mundo, relacionando-se com o meio e com os objetos portadores de significados, daí extraindo conhecimentos múltiplos que alicerçam as práticas cotidianas de cada indivíduo. Experiência e conhecimento se complementam quando abordamos questões do desenvolvimento cognitivo em face da funcionalidade que ambos apresentam na formação do leitor. São funcionais à medida que revelam utilidade no ato de estabelecer a compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que cerca esse leitor em contínuo processo de formação.
A psicolingüística toma por base a teoria da informação que postula a relação proporcional entre quantidade de informações e eliminação de incertezas na veiculação de uma mensagem. Convém definir informação como a medida de redução de incertezas sobre um determinado estado de coisas pela eliminação de alternativas improváveis (Smith, 1989, p.71) e por apresentar sempre uma taxa de novidade ao receptor. Se ler implica identificar conceitos e palavras cujo acervo reside na memória, isto significa dizer que quanto maior o armazenamento de informações tanto mais ampla será a relação entre o que é lido e, simultaneamente, compreendido.
Ressaltamos tais pressupostos para relacionar a relevância da leitura no ensino de Comunicação, reforçando a acepção de que o jornalista é, em primeira instância, um observador e relator dos fatos. Ora, narrar histórias do cotidiano sempre esteve associado à atividade do jornalista, empenhado em descrever os episódios para transmiti-los a uma comunidade de interlocutores que não presenciaram os acontecimentos. Rodrigues (in Traquina, 1993, p. 27) assinala que o acontecimento situa-se (…) na escala das probabilidades de ocorrência, sendo tanto mais imprevisível quanto menos provável for sua realização. Por tal motivo, a “estória” apresenta uma novidade, fugindo da previsibilidade, para se caracterizar como algo novo, assumindo, assim, o status de notícia. Nesse sentido, revela-se o caráter da profissão, pautado pelo ato de narrar os fatos. O mundo torna-se, pois, o grande cenário sobre o qual o jornalista vai atuar para daí recolher os fragmentos da realidade e publicá-los na mídia.
Queremos, com isso, defender nosso ponto de vista sobre o qual atestamos a eficácia da leitura como experiência de modo a recolher as informações do mundo cujo conteúdo será o substrato para se poder contar as histórias. Tuchman (1993) afirma que as notícias são construções, narrativas, “estórias”. Se assim o é, a um bom narrador será requisitado conhecimento acumulado que se consolida na vida prática. Traquina (2000, p.27) cita Ericson, Baranek e Chan para falar sobre o chamado “vocabulário de precedentes”, ou seja, os saberes necessários para um bom desempenho profissional. Dentre os quais, o autor menciona o “saber de narração”, ao esclarecer que consiste na capacidade de compilar todas essas informações [que orientam para elaboração de uma boa notícia] e ´empacotá-las´ numa narrativa noticiosa. Por tudo exposto, parece tautológico afirmar que só se conta uma boa história quem sabe o quê e como contar.
Ericson, Richard V.; Baranek, Patrícia M.; e Chan, Janet B. (1987). Visualizing Deviance: A study of News Sources. Toronto: University of Chicago Press.
As representações de leitura na aquisição do conhecimento: resultados da pesquisa
A pesquisa As interfaces da leitura de notícia no ensino de jornalismo: um estudo etnometodológico entre Brasil e Portugal, pretendeu fazer um estudo comparativo com alunos do curso de Comunicação Social de duas universidades públicas: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, situada geograficamente na cidade do Natal-RN, Brasil, e da Universidade Nova de Lisboa, na cidade de Lisboa, Portugal. Procurou problematizar questões que incidem sobre o ensino de Comunicação, tentando identificar as possíveis relações entre as experiências de leitura e o desempenho acadêmico, decorrendo daí a delimitação do perfil de leitor entre os sujeitos pesquisados.
Tratou-se, pois, de um estudo etnometodológico, comparativo, de base quantitativa e qualitativa, a partir do qual tivemos a intenção de saber junto aos alunos de jornalismo, dentre outras variáveis, a freqüência e o gosto pela leitura, a opção pelo veículo – impresso ou digital –, a capacidade de compreensão das notícias, as editorias e assuntos jornalísticos mais apreciados, os significados atribuídos à leitura de jornal na vida acadêmica, além dos diversos suportes de leitura. Admitimos que essas representações de leitura caracterizam a formação universitária e podem sinalizar determinadas contingências para o futuro da atividade jornalística.
Os sujeitos foram alunos de jornalismo, de ambos os sexos, selecionados aleatoriamente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e da Universidade Nova de Lisboa (UNL). O espaço amostral totalizou 102 alunos da UFRN, e 60 alunos da UNL, cuja abordagem metodológica consistiu na aplicação de um questionário com 41 questões semi-estruturadas. Os sujeitos foram compostos por 37, 25% , do sexo masculino, 62,75% do sexo feminino (Brasil); e 18,33% do sexo masculino, 81,66% do sexo feminino (Portugal), sendo que a maioria possuía idade entre 21 e 25 anos (48,02%, Brasil; 50%, Portugal). Quanto à ocupação, 57,84% (Brasil) e 10% (Portugal) disseram que trabalham ou fazem estágio, e os demais informaram dedicação integral aos estudos. Com estes números gerais, podemos observar que tanto no Brasil quanto em Portugal o interesse pela carreira jornalística está atualmente voltado à população jovem feminina, reconfigurando uma situação de algum tempo atrás, nos dois países, onde se era possível ver as redações de jornais, emissoras de rádio e de televisão ocupadas quase exclusivamente por profissionais do sexo masculino.
Os sujeitos pesquisados revelaram interesse pela leitura, o que reforça a concepção de que ler é uma atividade prazerosa, além de conferir status social. Quase todos os entrevistados disseram que gostam de ler (99,02%, Brasil; 100%, Portugal), argumentando que esta é uma das formas de ampliar os horizontes de conhecimento, pois a leitura, além de deixá-los informados e atualizados sobre o que acontece no mundo, ainda é uma prática “agradável”, “divertida” e “prazerosa”. As respostas mostram a natureza utilitária e o caráter lúdico da leitura, pois inferimos que os sujeitos demonstram interesse por ler para adquirir informações, situarem-se no contexto cotidiano dos acontecimentos, mas também por proporcionar estados de fruição. Quanto à leitura de jornal, considerada como relevante aos alunos de jornalismo, mereceu uma análise mais detalhada, por envolver textos com os quais irão se deparar nas suas rotinas profissionais, já na condição de produtores de notícia. Portanto, a leitura de jornal, além de favorecer a apreensão dos acontecimentos noticiosos, ainda permite adquirir formas e estilos de produção textual.
À pergunta “você lê jornal?”, 94,12% (Brasil) e 98,33% (Portugal) disseram que sim; 5,88% (Brasil) e 1,66% (Portugal) afirmaram que não. No Brasil, a grande maioria revelou interesse por noticiário local (81,37%), seguido de noticiário nacional (66,67%). Já em Portugal a situação é diferente: 85% disseram que se interessam mais por noticiário nacional e 71,66%, por cultura. A proximidade geográfica com o acontecimento é um dos valores-notícia sobre os quais os consumidores de notícia (news consumers) têm maior interesse, conforme um dos princípios da atividade jornalística. Horóscopo e Classificados são os assuntos menos lidos pelas duas amostras.
Entendemos que, nos dois países, as páginas de classificados são lidas em menor proporção em razão da sua função imediata de informar, vender, trocar uma diversidade de bens e objetos, nem sempre na ordem de prioridade diária dos sujeitos pesquisados. O que merece atenção é a disparidade estatística entre Brasil e Portugal no que respeita à leitura da editoria de economia, cujos dados indicam que nos dois países lêem-se menos assuntos desse segmento noticioso. Porém, em Portugal os números são consideravelmente menores (1,66%), o que nos leva a acreditar que tal realidade reflete na questão da densidade lexical e semântica, própria da linguagem adotada nos textos de economia. Ou seja, há dificuldades de compreender o que, de fato, as notícias de Economia querem dizer, o que demanda do leitor um conhecimento prévio sobre aquilo que é abordado em suas páginas. A dificuldade de compreensão, neste caso, pode gerar desinteresse.
No tocante à dificuldade para compreender determinados assuntos editoriais, 34,31% (Brasil) e 31,66% (Portugal) disseram que sim, ou seja, que enfrentam problemas de compreensão, sendo que as duas amostras encontram maior dificuldade em Economia (27,45%, Brasil; 28,3%, Portugal); Política (14,71%, Brasil; 8,33%, Portugal) e Internacional (7,84%, Brasil; 8,33%, Portugal).
Estes indicadores fazem emergir uma problemática sobre o ensino de jornalismo especializado, posto que na grade curricular do curso de Comunicação Social – habilitação em jornalismo, da UFRN e da UNL, não há disciplinas como “jornalismo econômico” e “jornalismo político”, as quais, pelo que deduzimos, poderiam ser necessárias para desfazer ou pelo menos clarificar tais dificuldades de interpretação de notícias com conteúdos tão específicos, além de capacitá-los a produzir textos daquela natureza. Na UNL, diferentemente da UFRN, há disciplinas voltadas para as teorias da economia e da política.
A compreensão é um fenômeno decorrente da leitura que reside na capacidade de se atribuir sentidos ao objeto lido. Recorrendo aos aportes da psicolingüística, podemos dizer que a compreensão é fruto do conhecimento armazenado na memória de longo prazo do leitor (Smith, 1999; Lencastre, 2003; Kato, 1999). Devemos entender, contudo, que a leitura de um texto jornalístico está inserida no sistema de representações que irrompe uma convenção própria de questionamentos para daí se inferir o sentido dos acontecimentos narrados. Assim sendo, a experiência será necessária ao ato da leitura, uma vez que o conhecimento prévio auxiliará o leitor no momento de questionar o texto para poder desvelar os significados nele intrínsecos. Contudo, entendemos que a experiência não ocorre senão por meio da sistematização de determinada atividade que demanda tempo, interesse e motivação. Se os sujeitos pesquisados demonstram dificuldades de compreender assuntos como economia e política, acreditamos que se deve ao fato de exigir do leitor um repertório de informações específicas nessa área de conhecimento, muitas vezes inacessíveis.
Quanto à “freqüência de leitura” de jornais impressos, os entrevistados responderam o seguinte: Diária (40,2%, Brasil; 16,6%, Portugal); Algumas vezes na semana (37,25%, Brasil; 56,6%, Portugal); Semanal (11,76%, Brasil; 15%, Portugal); Eventual (3,92%, Brasil; 10%, Portugal).
Perguntamos ainda aos sujeitos sobre as preferências midiáticas no sentido de deixá-los informados. Obtivemos, as seguintes respostas de múltipla escolha: Ler jornais impressos (54,9%, Brasil; 50%, Portugal); Assistir aos telejornais (74,51%, Brasil; 80%, Portugal); Acessar a Internet (69,62%, Brasil; 21,66%, Portugal); Ouvir rádio ( 25,49%, Brasil; 23,3%, Portugal).
Os números nos mostram a semelhança entre os dois países, exceção feita à opção “acessar a internet” que apresentou desequilíbrio estatístico, a partir dos quais podemos afirmar que os alunos de jornalismo do Brasil preferem ficar informados através da rede mundial de computadores, possivelmente lendo os jornais em versão on line ou acessando os portais de notícia ou, de outra forma – e em números que se aproximam –, assistindo aos telejornais. Os estudantes de jornalismo de Portugal também preferem assistir aos telejornais, mas como segunda opção está a leitura de jornais impressos. Os números parecem indicar que os fatores como dificuldade de acesso e preço dos jornais nacionais, no Brasil, geram a desproporcionalidade. A folha de São Paulo e O Globo, apesar de serem referência no país, são pouco lidos pelos alunos em Natal, o que justifica a recorrência aos telejornais e à internet como meios de informação. Em Portugal, pelas dimensões geográficas, os jornais nacionais naquele país estão mais ao alcance dos alunos, razão pela qual entendemos o baixo índice de sujeitos que acessam a internet para se informar, uma vez que não há necessidade para que tal aconteça, não obstante reconheçamos que uma situação não invalida a outra.
Ainda sobre a sistematização da leitura, perguntamos: “Algo o impede de ler jornal diariamente?”. 62,75% (Brasil) e 63,3% (Portugal) disseram que sim. As justificativas foram estas: Não tenho tempo (37,25%, Brasil; 43,33%, Portugal); Prefiro me ocupar com outra atividade (2,9%, Brasil; 1,66%, Portugal); Não tenho dinheiro para comprar (22,25%, Brasil; 26,6%, Portugal).
Os dados indicam que os alunos de jornalismo do Brasil e de Portugal, em sua maioria, gostam de ler jornais. Porém, afirmam que não dispõem de tempo – possivelmente por ocupações de trabalho ou de estágios extracurriculares, no caso do Brasil; e outras ocupações não reveladas, em Portugal, de acordo com os números indicados –, ou dinheiro para comprar jornais diariamente.
É lícito retomar a questão da leitura de jornal como forma de apreensão do conhecimento e da estrutura da narrativa, abordada anteriormente. Ratificamos o pressuposto de que os alunos de jornalismo devem se acostumar com a linguagem escrita nos jornais como forma de organizar seus próprios textos e que obedeçam a determinados critérios técnicos e estilísticos. Traquina (2000, p.27) assinala que “as notícias são elaboradas com a utilização de padrões industrializados, ou seja, formas específicas que são aplicadas aos acontecimentos, como por exemplo, a pirâmide invertida”. Por isso, não é a apenas a teoria do mundo (cf. Smith, 1999) que entra em discussão no ato da leitura, mas questões práticas que implicam nos desdobramentos da competência acadêmica e profissional.
Quando nos referirmos ao Brasil, entenda-se, portanto, à população de sujeitos pesquisados, limitada à amostra dos alunos de jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tanto quanto a Portugal, cujo estudo foi circunscrito aos alunos da Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa.
Por uma política de leitura no ensino de Comunicação: considerações finais
Com esta pesquisa, vimos que a representação de leitura é proporcionalmente significativa aos objetivos e finalidades que se apresentam aos alunos, ou seja, se terá função utilitária, se atenderá às exigências dos exames de qualificação, se proporcionará momentos de diversão, prazer, ou ainda por necessidade da escolha profissional. Os sujeitos pesquisados reconhecem que ler confere status social e é fundamental para que eles se situem numa sociedade letrada, em contato com inúmeros canais de informações, por experimentarem os efeitos que a leitura possibilita. Entretanto, observamos que a leitura ainda é desafio ao cultivo diário e sistemático, quer de livros ou de jornais. A literatura, enquanto produto estético e de prazer, e revistas de gêneros variados demonstraram ser primordiais ao desenvolvimento do gosto pela leitura, em razão do elevado percentual na ordem de interesses dos sujeitos. Ainda assim, a televisão é a mídia que eles recorrem com maior freqüência para ficar informados, não obstante declararem que gostam de ler e que uma parte acessa a internet. Inferimos que assistir ao telejornal indica o apelo imagético da televisão que termina por concentrar maior interesse em relação aos jornais impressos. Observamos que no processo de formação do jornalista, nas duas universidades, as experiências de leituras estão imersas não só no ambiente acadêmico, mas fora do contexto universitário, notadamente no seio familiar ou nos ambientes públicos. É legítimo afirmar também que a apropriação de novos conhecimentos amplia o repertório de leitura e altera o comportamento metacognitivo, isto porque os sujeitos declararam que a leitura promove a aprendizagem e os deixa mais cultos.
É provável que o reconhecimento da leitura como base de formação profissional pode levar os aprendizes à condição de atores sociais que a identificam como fonte de criticidade, de prazer, de construção de valores pessoais e sociohistóricos, além de parâmetros de referenciação que possibilitam reunir as informações para escrever e narrar uma notícia, cujo texto refletirá sua capacidade de observar o mundo e desempenhar as funções de jornalista.
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Auteur
Adriano Lopes Gomes
.: Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Brasil